A ciência, a tradição e a queda da fenomenologia


Pordeboraegc- Postado em 01 maio 2011

Este texto está baseado em duas seções do livro “A mente corpórea” de Francisco Varela, Evan Thompson e Eleanor Rosh, p. 39-46, “A ciência e a tradição fenomenológica” e  “A queda da fenomenologia”.

Na tradição ocidental Merleau-Ponty é um dos poucos que explorou o entre-deux (fosso) entre ciência e experiência, experiência e mundo. Ele se apoiou nas obras do filósofo alemão Edmund Husserl. A tradição científica moveu-se para o ocidente para um meio predominantemente positivista nos EUA, daí se formaram as modernas ciências cognitivas que conhecemos.

Franz Brentano desenvolveu a noção de intencionalidade, onde todos os estados mentais (percepção, memória) são de ou sobre algo, era a característica que definia a mente. Husserl desenvolveu um procedimento para o exame da estrutura da intencionalidade, era a própria estrutura da experiência, chamado epoché (por entre parênteses), requeria que se deixasse fora da ação, os juízos correntes de cada um sobre a relação entre experiência e mundo.

Husserl numa espécie de introspecção filosófica, chamada “intuição de essências” tentou reduzir a experiência a estas estruturas essenciais. Deste modo deu o 1º passo do cientista reflexivo: Afirmou que “para compreender a cognição, não podemos aceitar o mundo de um modo ingênuo, devendo encará-lo como tendo a marca da nossa própria estrutura”. Deu o 2º passo concluindo que essa estrutura era algo que estava reconhecendo com a sua própria mente.

Na sua última obra, Husserl concentrou-se na experiência da consciência naquilo que chamava “mundo vivido”, que não é a concepção ingênua e teórica do mundo, é o mundo social de todos os dias, no qual a teoria é sempre dirigida para um fim prático. Com isso, a tarefa do fenomenologista torna-se a análise da relação entre consciência, experiência e este mundo da vida. Husserl pensou que a solução era desenvolver a noção de ciência, de modo a incluir uma nova ciência do mundo da vida – fenomenologia pura – que ligaria a ciência e a experiência.

O modo como Husserl se voltou para a experiência era absolutamente teórico, revelava uma ausência total de qualquer dimensão pragmática. Logo, não é surpreendente que fosse incapaz de ultrapassar o fosso entre ciência e experiência. Esta crítica também é válida para a fenomenologia existencial de Heidegger e para a fenomenologia da experiência vivida de Merleau-Ponty, que davam ênfase ao contexto pragmático e corporalizado da experiência humana, mas de um modo puramente teórico.

Na tradição ocidental a fenomenologia era e ainda é a filosofia da experiência humana, o único edifício do pensamento existente que permite enfrentar estes temas, era e ainda é filosofia como reflexão teórica, através de um raciocínio abstrato e teórico.

O autor finaliza esta seção afirmando que “Continuamos tendo a necessidade de um método. Onde podemos enveredar por uma tradição passível de fornecer um exame da experiência humana nos seus aspectos vividos, tanto reflexivos como imediatos?

Por Débora Cabral Nazário.