Educação e Cultura


PorAnônimo- Postado em 24 junho 2010

“A educação é um típico “que-fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade, dentro da qual ela está, deve possuir alguns valores norteadores de sua prática” (Luckese,1990). O autor apresenta três tendências filosóficas com relação à interpretação da educação na formas de agir, politicamente, no contexto da prática pedagógica: a tendência redentora (pedagogia otimista, onde a educação tem poderes praticamente absolutos sobre a sociedade), a reprodutivista (compreende a educação na sociedade de forma crítica e, ao mesmo tempo, pessimista, onde a saída para esta é submeter-se aos seus condicionantes) e a transformadora (compreende a educação dentro de seus condicionantes, buscando estratégia para sua transformação)
Zotti (2004) ao fazer uma análise histórica entre a proposta educacional e as propostas curriculares oficiais presentes na legislação brasileira e o seu contexto socioeconômico-político afirma:
“...a relação entre o contexto socioeconômico-político, educação e currículo oficial evidencia-se em todos os períodos. Os currículos oficiais foram adequados aos contextos, especialmente no sentido de garantia dos interesses dominantes, atendendo as necessidades econômicas e políticas, na medida do desenvolvimento da sociedade, conforme os interesses dominantes.”
A autora destaca a importância da dialética entre a sociedade e educação e, que um princípio metodológico e uma atitude indispensável na reconstrução e compreensão na história da educação,
seria considerar o contexto socioeconômico-político. Esta afirmação vai ao encontro de uma pedagogia transformadora abordada por Luckese.
“A educação deve ter como objetivos o pleno desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento pelo respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Ela deve promover a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e os grupos religiosos e raciais.”(UNESCO, 2001). Complementando esta definição Morin (2003) apresenta que “A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem conhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano.” Segundo o autor, todo conhecimento para ser pertinente deve contextualizar o seu objeto através dos seguintes questionamentos: “Quem somos? Onde estamos?De onde viemos? e Para onde vamos?’
De acordo com Capra o sistema integrado de valores, crenças e regras de conduta que se associa ao fenômeno da cultura nasce da dinâmica e complexa interdependência entre a formulação de valores e regras sociais de comportamento que são fenômenos sociais gerados por redes de comunicação humana, e a geração contínua de imagens mentais, pensamentos e significados que, por sua vez, também coordena continuamente o comportamento de seus membros. O autor faz um breve histórico do termo cultura, onde este substantivo, na antiguidade, significava um processo, referindo-se a cultura de cereais ou de animais; no séc. XVI, como extensão metafórica, passou a denominar o cultivo da mente humana; no fim do século XVIII, adquiriu o sentido de um modo de vida particular de um povo; no séc.XIX o plural “culturas” passou a designar modos de vidas específicos com o desenvolvimento da antropologia comparada. O uso mais antigo de “cultura” expandiu-se e diversificou-se, significando, desde um estado desenvolvido da mente (“pessoa culta”) até o processo desse desenvolvimento (atividades culturais). “Os diversos significados de cultura associados ao cultivo da mente coexistem” e segundo Capra, a Colúmbia Encyclopedia define cultura como “o sistema integrado de valores, crenças e regras de conduta adquiridas pelo convívio social e que determina e delimita quais os componentes aceitos por uma dada sociedade.”
Seguindo esta definição, o autor aponta que a cultura nasce de uma rede, numa dinâmica complexa e não-linear, “rede social dotada de múltiplos elos de realimentação através dos quais valores, crenças e regras de conduta são continuamente modificados e preservados.” E, à medida que nasce, impõe limites às ações desses indivíduos”.
É interessante observar que “...o desenvolvimento de uma cultura de paz por meio de amplo acesso ao conhecimento, só poderá ser atingido mediante um processo educacional que valorize o indivíduo em sua totalidade. A valorização do indivíduo, por sua vez, implica o reconhecimento do outro, que não pode ser concebido a priori como objeto, o que seria uma forma de colonialismo. Além disso, “como a solidariedade é uma forma de conhecimento que se obtém por via do reconhecimento do outro, o outro só pode ser reconhecido enquanto produtor do conhecimento”, o que significa um profundo respeito aos saberes, inteligência e cultura de um povo. (UNESCO, 2001).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS

Abrindo espaços -Educação e Cultura para a Paz/ Marlova jovchelovitch Noleto, coordenadora – edições UNESCO Brasil 2001

CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Trad. Marcelo Brandão Cipolla..2.ed. São Paulo: Cultrix, 2002. 296p.

Luckesi, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1990. Coleção Magistério 2ª grau-formaçãoo do professor. 183p

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários a Educação do Futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2003-b.118p

Zotti, Solange Aparecida. Sociedade, Educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas, SP: Autores Associados; Brasília, DF: Editora Plano, 2004. 240p