Entrevista - Negri e Cocco destacam iniciativa do Gabinete Digital para a renovação da democracia


Porbarbara_montibeller- Postado em 08 maio 2012

Entrevista - Negri e Cocco destacam iniciativa do Gabinete Digital para a renovação da democracia

No momento em que o movimento de contestação popular democrática 15M completa um ano, o Governo do Estado do RS vai até a Espanha para apresentar seu sistema de participação cidadã, que inclui o Gabinete Digital.

Em entrevista a Carta Maior, Antonio Negri e Giuseppe Cocco traçam um panorama das mudanças provocadas por movimentos como o 15M, a crise da democracia nos países europeus e o papel que os países do sul podem desempenhar na busca por novos modelos de democracia, com novos canais e espaços de participação popular.

Depois de um ano do início do movimento 15M, qual a força de mobilização e capacidade de renovação dos protestos?

Antonio Negri e Giuseppe Cocco: Usando as palavras de Raúl Sanchez, podemos definir o 15M e as primaveras árabes também como movimentos de revolução democrática: inventores de democracia e radicalizadores da democracia.

Os protestos e as mobilizações nunca pararam e continuaram a se propagar de maneira viral[...]. Os contextos de cada um desses movimentos foram muito diferente e em nenhum deles se repetiu o que acontecia em outro lugar. Contudo, cada um deles conseguiu traduzir para a sua singularidade alguns elementos comuns. Como dissemos, esses movimentos desenvolveram-se numa “forma multidão”, algo como um “fazer-se da multidão”: frequentes assembléias e decisões participativas.

Quais as possibilidades de construção de sínteses a partir dessas novas mobilizações para uma nova agenda democrática?

AN e GC: Mais do que pensar na construção de novas “sínteses”, o desafio atualmente é a renovação e a propagação dos movimentos “constituintes” e, dentro e a partir deles, de uma nova agenda democrática, de um novo “programa”, um programa da multidão. O eixo desses esforços foi definido pelos próprios movimentos: trata-se da luta para a reapropriação social de tudo que a renda financeira expropria; uma luta rumo à construção de um “novo welfare”, capaz de libertar as vidas da chantagem dos dispositivos de endividamento e das infinitas modulações dos fragmentos de inclusão-exclusão, exclusão-inclusão.

De maneira mais geral, a questão é de saber se o 15M e as redes sindicais conseguirão se encontrar num terreno não corporativo, ou seja, na construção de uma agenda adequada.

Quais perspectivas podem vir do Sul, onde a tradição democrática é mais jovem, mas as experiências das novas metodologias têm sido referência, como no caso do Brasil e o Rio Grande do Sul?

(...)
Nesse sentido, o Sul em geral e a América do Sul em particular pode ter um papel fundamental a desempenhar dentro da crise, colocando-se como um novo ponto de referência para os movimentos, no terreno da resistência democrática e de um reformismo inovador. Agora, esse papel não é nem automático e nem está consolidado. Pelo contrário, já existem inúmeras inflexões que nos fazem pensar em uma homologação dos projetos e das políticas dentro dos valores – decadentes, mas sempre em vigor – do capitalismo global.

Enfim, a questão que se coloca é mesmo de saber se o Sul – e o Brasil em particular – quer mesmo se homologar pelos valores transcendentes (e decadentes) do Norte e de seu capitalismo financeiro ou se, ao contrário, é sua alteridade radical e a sua capacidade de produzir novos valores que interessa.

(Disponível em : http://gabinetedigital.rs.gov.br/post/1865  Acesso em 08 de maio)