História natural da linguagem humana


PorAnônimo- Postado em 14 abril 2010

Os autores iniciam apresentando um dogma vigente: a linguagem é privilégio humano. Estudos a partir da década de 30 iniciaram a colocar esse dogma em cheque, a partir de experimentos realizados com primatas superiores (chimpanzés e gorilas). Os autores citam a experiência realizada pelo casal Kellog, que criou Gua, uma chimpanzé junto com o filho do casal de pesquisadores, Donald. Os esforços para fazer Gua falar fracassaram, já que a primata não conseguia produzir modulações vocais. Conscientes da estrutura desses primatas, o casal Gardner buscou uma nova experiência, ensinando à chimpanzé Washoe a linguagem gestual Ameslan (American Sign Language). Washoe aprendeu em cinco anos cerca de 200 gestuais, conseguindo expressar vontades e sentimentos (estar triste, pedir desculpas,...). Uma outra chimpanzé treinada em linguagens gestuais, Lucy, conseguia formar por iniciativa própria gestuais compostos para definir um objeto. Um exemplo: ela usava os gestos “abrir-comer-beber” para definir uma geladeira. Maturana, porém, afirma que “O fato de que um primata possa interagir usando os gestos do Ameslan não implica necessariamente que ele possa fazer uso de sua reflexibilidade potencial para distinguir elementos no domínio lingüístico como se fossem objetos, como fazem os humanos”. Essa afirmativa decorre do experimento feito com os chimpanzés Lana, Austin e Sherman, que foram treinados em linguagem gestual. Em experimentos resumidos na tabela abaixo, foram observados diferentes resultados:


Desafio

Lana

Austin

Sherman

A) Dados alguns objetos, separar os comestíveis de não comestíveis.

Sucesso

Sucesso

Sucesso

B) Ensinados os lexicogramas para objetos comestíveis e não comestíveis, pediu-se para que os chimpanzés associassem objetos segundo os lexicogramas.

Fracasso

Sucesso

Sucesso

Atribuiu-se a diferença de resultado no experimento B à metodologia de treinamento utilizada para Lana e os outros dois. Sherman e Austin aprenderam juntos, o uso prático dos signos e objetos na manipulação. Interagiam entre si e com outros humanos. Lana aprendeu as formas de interações lingüísticas por meio de um computador, com ênfase na associação de signos com objetos. A interação de Sherman e Austin entre si e com humanos parece ter propiciado uma ontogenia distinta de ambos, em relação à de Lana, que desenvolveu um domínio lingüístico mais limitado.

O capítulo aponta ainda uma provável razão para o aparecimento da linguagem nos hominídeos: o fato de serem seres sociais, com ligações afetivas e relações interpessoais associado a condições ambientais que levaram os machos a se ausentarem do grupo para a busca de alimentos, fez com que a espécie desenvolvesse um meio de comunicação, uma “trofolaxe” que permitisse a construção de tramas recursivas, que permitissem aos indivíduos contarem as histórias uns aos outros, e mais do que isso, levar consigo (na memória) o grupo, sem necessidade de interações físicas constantes.

MATURANA, H. R., VARELA, F. J. Domínios linguísticos e consciência humana, in: A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 6 ed. Editora Palas Athena. São Paulo, SP.2007. Pg 234-240.