A migração digital


Porbiblioteca- Postado em 04 março 2010


VILCHES, Lorenzo .A migração digital. Ed. Loyola. 2003. 278 pgs.

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Resumo

Introdução

A fusão ou fissão dos novos e antigos meios é o resultado inevitável dos movimentos migratórios das tecnologias digitais, da televisão e da internet. Esta migração afeta a nova maneira de viver o espaço e o tempo que as imagens geram ao nosso redor. A partir de uma pergunta guia sobre quais mudanças os usuários estão experimentando, no campo da televisão, como efeito da migração digital, o autor baseia seu ensaio.

Baseando-se no dualismo dos estudos do avanço das tecnologias digitais, onde uma visão utopicamente prevê a igualdade e a liberdade como resultado final desta onipresença da informação e outra radicalmente entende que o desenvolvimento das tecnologias é a base capitalista de novos conflitos sociais o autor nos apresenta uma visão multidisciplinar de como esta evolução pode interferir na cultura, economia e política.

Capítulo 1 – A migração digital

O neocolonialismo iniciado no início do século XXI caracteriza-se pelo controle dos meios de comunicação de massa e dos recursos naturais e culturais. Com o avanço deste controle, as nações colonizadas perderiam a produção local de mídias, que será realizada pelas gigantes transnacionais, passando a ser meros espectadores consumidores. Assim, duas estruturas públicas sofrerão migração: os governos baseados na delimitação geográfica, por perderem sua razão de ser no ciberespaço e a identidade cultural das nações, por transferirem as relações sociais, a educação e o entretenimento para a rede global. Por este ponto, pode-se até pensar no fim da democracia, posto que esta definha junto com a cultura.

A nova sociedade digital, assim como a sociedade atual, também é dividida em duas classes, porém não diretamente em ricos e pobres, mas sim em conectados e não-conectados. Ora, mas se o que define um não conectado é justamente a ausência de recursos financeiros para manter seu status de conectado, não seria esta a mesma divisão? Da mesma forma que se dividem as classes no capitalismo, se dividem os recursos de interatividade na sociedade da informação: às elites conectadas, todas as formas de acesso às redes e conhecimentos; aos vassalos desconectados resta a limitação dos meios de comunicação de massa.

A união da Internet com a televisão forçará a mudança do fornecimento de programas e serviços para o fornecimento de serviços e sua avaliação passará a se dar pelo critério da utilidade e inutilidade, justamente o contrário do acontece com os outros produtos, que são mais valorizados pela imagem social que pela função.

Capítulo 2 – Tecno-romantismo

Ao mesmo tempo que observamos a convergência massiva entre televisão, computador e telefone, temos os discursos imaginários sobre a migração digital criados pela sociedade da informação. Estes discursos simbólicos e mitos são necessários para dar ênfase no sentido da tecnologia no intuito de lhe fundar uma imagem social.

Apresentam-se então dois mitos: o do ciberespaço como imanência e o do ciberespaço como transcedência na sociedade pós-industrial. Para tanto são utilizados dois filmes: “Matrix” e “Denise Está Chamando” como referências principais. São apresentados vários aspectos como a regionalização, onde abandona-se o aspecto urbano migrando para o ciberespaço, trazendo conceitos como compartimentação e segmentação e na sequência a lógica da convivência simultânea da tecnologia de ponta com o primitivo.

Por fim traça um comparativo entre os virus biológicos e os virus de computador, resgatando a na história de ambos as suas semelhanças tanto comportamentais quanto destrutivas e conclui que os vírus de computador também tem seu caráter biológico ao atacarem formas artificiais de vida.

Capítulo 3 – Língua

A partir da metáfora da Torre de Babel, entende-se que a Internet pode ser considerada a primeira tentativa real de se alcançar os céus através de uma única arquitetura comunicativa. Porém o efeito real destas mudanças é a redução do léxico e da expressão a uma linguagem simples e sintética assemelhada a um conjunto de sinais como de fato ocorre na comunicação dos dos computadores.

O grande problema da redução verbal é que mesmo com a globalização da televisão e da internet não chegamos à aldeia global porque a informação preferida continua sendo a local. Também é verificado que a língua está relacionada com a identidade, tanto dos indivíduos quanto das nações e a aplicação de uma língua global à informação centralizaria de uma forma catastrófica o conteúdo.

Capítulo 4 – Narração

A migração digital alimenta-se de diversas concepções científicas, tecnológicas e culturais, para construir um mundo narrativo e um discurso retórico frequentemente fascinantes. O principal ponto desta narrativa está relacionado com a interatividade. A interatividade eletrônica permite a exploração pelos telespectadores de conteúdos existentes no centro dos conflitos em programas como “Big Brother” onde antes eles só se limitavam a assistir. Onde antes haviam apenas os roteiristas e diretores do programa criando o conflito hoje existe a interatividade.

A interatividade em si não é narrativa, mas a sua existência permite o consumo da narração com a sensação de que se faz parte dela. E hoje fazemos tanto parte da interatividade quanto da narrativa de forma forçada por exigência da evolução e do tecido social.

O livro pode ser substituído pelo hipertexto, ainda que o fluxo capitalista ainda seja focado no conceito de produto físico, como o livro e todo o seu sistema de produção, classificação e comércio, o futuro do livro é ser digital.

Capítulo 5 – Conhecimento e ação

A evolução contida nos últimos 50 anos produziu transformações tecnológicas e culturais de uma forma nunca antes acompanhada na história da humanidade. Porém ao mesmo tempo que algumas coisas evoluíram, tivemos vários erros no caminho, sendo um deles a televisão educativa. A televisão foi proposta como uma forma de entreter, informar e educar e fracassou na última tarefa, principalmente pela sua carência de interatividade.

Já a internet possui todo o ferramental necessário para este fim. Além de possuir a interatividade como base e ter sido desenvolvida com fins educacionais (além dos militares), já possui, por exemplo, os fórums que organizam vastas comunidades sobre um único tema.

As novas tecnologias que surgem e a mobilidade irão causar duas vias de migração. Não é possível prever como ocorrerá esta migração, mas já podemos verificar que uma parte irá participar das convergências mais conservadoras e outra das mais arrojadas e interativas, como já acontece atualmente onde uma parte dos espectadores acompanha a televisão e outra a internet.

Capítulo 6 – Usuários

O modelo de difusão do conhecimento presente até o século XVI era baseado na distribuição de textos impressos. Este modelo começa a mudar a partir da introdução da economia e do mercado e é iniciado com a generalização do consumo dos produtos que possuem conteúdo impresso e cujo valor é regulado pela abundância da oferta. Em um segundo momento temos uma redução drástica entre o tempo de produção e o de distribuição do produto, como no rádio, e o terceiro momento está vinculado à capacidade de se poder representar visualmente o conhecimento e a informação.

Temos então o problema da passividade, que é apresentada através da questão de ser ela uma característica humana ou uma característica da televisão. A introdução da Internet e das redes de conhecimento operaram grandes mudanças neste modelo posto que nestas há além da interatividade uma forma de divulgação e compartilhamento do conhecimento.

O ciberespaço manifesta-se como uma rede sem centro tampouco periferia. A rede, depois da escrita, é a tecnologia mais metaforizada da literatura sobre comunicação. Porém, longe destas visões, a rede é um sistema com três elementos principais: uma infraestrutura material, os nós de chegada e um fluxo de produtos, no caso da internet, a informação.

Capítulo 7 – Migração interativa

Sem conflito não há mediação possível. E o conflito referente á migração digital é evidenciado pelos processos sequenciais de fusão e fissão sociais. Neste ponto surge a interatividade mudando o usuário da situação de objeto de manipulação para sujeitos que mannipulam. Ainda resta dúvida integrada se estes usuários manipulam os meios ou os conteúdos. Considera-se então que de acordo com o atual estágio de evolução das tecnologias, manipula-se muito mais o conteúdo que os meios, pois ainda por um longo período a internet será pobre em multimídia e rica em texto para o usuário médio.

A interface é um dos objetos do espaço cultural. A televisão, diferentemente de qualquer outro meio de transmissão de informação não possui uma, não possuindo igualmente, nada entre o meio e a mensagem. E esta é a sua principal diferença entre o computador, os meios intermediários. No computador, a interface não é um complemento, mas sim o centro da interação.

A interação facilita a transmissão de conteúdos audiovisuais na medida em que permite a difusão seletiva e juntamente cria uma série de novas regras sociais de interação manifestadas em uma ética na forma de participar e usar os recursos.

Capítulo 8 – A imagem

O mais espetacular advento da migração digital é protagonizado pela imagem. As imagens informáticas oscilam entre o grau zero de realidade pela modificação dos traços originais e a hiper realidade, onde há a geração de novo ícones não naturais com alto grau de simulação com os objetos reais que às vezes ultrapassa a semelhança do próprio objeto representado. Tudo isso graças ao poder do computador.

A redução do mundo, objetos e pensamentos a signos é uma operação de abstração. Na construção narrativa põe-se em funcionamento um processo de abstração de estruturas lógicas. Na contemplação de uma foto um processo perceptivo. A realidade é a resultante desta mediação de processos.

Paloma saída 03/03/2010

Devolvido em 29/11/2010