Notícia - Uma análise qualitativa do governo eletrônico


PorClarissa Vieira- Postado em 08 maio 2011

Notícia - Uma análise qualitativa do governo eletrônico

(Fonte: XVI Concurso de Ensayos y Monografías del CLAD sobre Reforma del Estado y Modernización de la Administración Pública "Gobierno Electrónico". Caracas, 2002 - Governo Eletrônico ou Governança Eletrônica – Conceitos Alternativos no Uso das Tecnologias de Informação para o Provimento de Acesso Cívico aos Mecanismos de Governo e da Reforma do Estado - Marco Aurélio Ruediger)

Resumo:

-Compreender a percepção existente sobre a situação atual e as perspectivas do governo eletrônico no Brasil, em especial em sua relação com os cidadãos, sob as diversas óticas dos diferentes agentes envolvidos com o tema; por meio de grupos focais. Participação de usuários da Internet; foi composto de homens e mulheres entre 25 e 45 anos, moradores da cidade do Rio de Janeiro, pertencentes às classes sociais A e B.

-Um ponto que surgiu das discussões, referente à percepção da existência de dois governos: um moderno e eficiente, no mundo virtual, e outro burocrático e ineficiente, no mundo real.

-Recortes mais significativos:

“Em termos de serviço público na Internet o Brasil está bem à frente. Tem diferença em relação ao mundo real”.

“A grande diferença é que a idéia que eu tenho de governo é que é desorganizado, na Internet não é assim”.

“Na verdade a Internet vem evoluindo, os sites públicos também, eles estão tirando das pessoas as dificuldades. A receita federal era um inferno, [...] o acesso às agências. Com a viabilidade da Internet facilitou a vida de todo mundo, se faz um download”.

“Na Internet há uma postura diferente por parte do governo. Basta ir ao Detran na Presidente Vargas ou ir a Internet, está tudo informatizado, pessoalmente você não resolve nada”.

“A Internet pode reforçar uma elitização que já existe, mas ela não cria”.

“Tem um processo gigantesco que é chamado globalização. O governo é obrigado a descentralizar como todo mundo. Ele não é bonzinho, quer diminuir gente [sobre o número dos usuários de serviços no mundo real]”.

“Não aumenta a credibilidade. A pessoa maquia o livro contável, frente a frente. A página da Internet é muito mais fácil”.

“Vão colocar a informação que acharem interessante, mas já é um caminho.” “Tem tanta corrupção no mundo real. Acho que é acesso ao serviço, mas não é credibilidade”.

Análise:

-Eficiência: segundo a pesquisa, diferentemente da governança real, na internet encontram-se ferramentas de governança muito úteis, que facilitam a interação do cidadão. Temos os exemplos positivos da receita federal e do Detran.

-Elitização: pode-se considerar, segundo os entrevistados, que a internet não é capaz de motivar a participação dos cidadãos e a mesma reforça a exclusão digital já existente.

-Motivação do governo: na visão dos entrevistados, o interesse do governo não é de gerar modificações sociais com relação à maior participação dos cidadãos, mas sim de seguir as tendências globais e diminuir os gastos “físicos”.

-Credibilidade: a internet não garante a legitimidade das informações. A corrupção do mundo real é refletida nas informações repassadas pela rede.

-Seleção do acesso: apenas informações desejáveis seriam disponíveis para acesso, sendo que o governo não tornaria transparentes as informações que poderiam prejudicá-lo.

Geral: Temos opiniões controversas a respeito de governo eletrônico. Ao mesmo tempo em que algumas opiniões apontam satisfação com os serviços disponíveis, também é levantado o ponto de que esse “governo virtual” é diferente do “governo real”, e essa desconfiança do cidadão brasileiro com relação ao governo, se reflete em outras opiniões. Como o governo se mostra ineficaz e corrupto em diversos casos, os entrevistados têm uma tendência de desconfiança, não depositando credibilidade nas informações expostas por meio da internet, considerando a motivação do governo puramente financeira (ao invés de social) e desconfiando que apenas vai estar disponível para acesso o que o governo deseja tornar publico.

Conclusão: O que se pode perceber são duas tendências que se ramificam desse contato com o e-governo: uma positiva, que parte da desburocratização dos serviços administrativos e outra negativa, relativa à prestação de contas por meio da internet. Como esse “governo real” não se mostra íntegro, é completamente aceitável, prever que as informações vinculadas não apresentarão a transparência desejada; também desconfiando que a motivação do governo não seja primordialmente de cunho social, como deveria.