Questões sobre o livro Vida Liquida = Zygmunt Bauman - Equipe 3


PorAugusto_Cesar- Postado em 22 agosto 2012

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Centro de Ciências Jurídicas

Programa de Pós-Graduação em Direito

Equipe – 3: Augusto, Daiane e Jaqueline.

 

Questões sobre o livro Vida Liquida = Zygmunt Bauman

 

  1. O que autor entende por “vida líquida”?

A vida líquida é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna. A sociedade líquido-moderna é aquela em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação dos hábitos e rotinas, das formas de agir. A vida líquida, assim como a sociedade, não podem manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo. (pg. 7). A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante, é uma sucessão de reinícios. Nessa vida, livrar-se das coisas tem prioridade sobre adquiri-las. (pg. 8). É uma vida de consumo, projeta o mundo e seus fragmentos como objetos de consumo, ou seja, que perdem a sua utilidade enquanto são usados. (pg. 16/17)

 

  1. O que ocorre com as realizações individuais nessa sociedade líquido-moderna citada pelo autor?

Essas realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes, em instantes, os ativos transformam-se em passivos, e as capacidades em incapacidades. As condições de ação e reação se tornam obsoletas. (pg.7)

 

  1. O que se entende por “destruição criativa”?

É a forma como caminha a vida líquida. Aquilo que a criação destrói são outros modos de vida e, portanto, de forma indireta, os seres humanos que os praticam. (pg.10)

 

  1. Como o autor relaciona a velocidade à vida líquida?

Para Bauman a velocidade e não a duração é o que importa. Com a velocidade cera, pode-se consumir toda a eternidade do presente contínuo da vida terrena. O truque é comprimir a eternidade de modo a poder ajustá-la, inteira, à duração de uma existência individual. (pg.15)

 

  1. O que hoje, na percepção do livro, é concebido como individualidade?

A individualidade hoje, significa em primeiro lugar a autonomia da pessoa, a qual, por sua vez, é percebida simultaneamente como direito e dever. Antes de qualquer coisa, a afirmação “eu sou um indivíduo” significa que sou responsável por meus méritos e fracassos, e que minha tarefa é cultivar os méritos e reparar os fracassos. (pg. 30/31)

 

  1. Como o consumismo é visto pela sociedade de indivíduos?

O consumismo é uma resposta do tipo “como fazer”. A lógica do consumismo serve às necessidades dos homens e das mulheres em luta para construir, preservar e renovar a individualidade e, particularmente, para lidar com a sua aporia. Os movimentos do mercado de consumo desafiam a lógica, mas não a da luta já inerentemente aporética pela individualidade. A luta pela singularidade agora se tornou o principal motor da produção e do consumo em massa. (pg. 36).

 

  1. Qual a relação entre segurança, liberdade  e globalização apontada pelo autor?

Quando falta segurança, os agentes livres são privados da confiança sem a qual dificilmente se pode exercer a liberdade. Quando falta a liberdade, a segurança parece escravidão ou prisão. (pg.51). “Enquanto os beneficiários da globalização instável e desigual vêem a liberdade desenfreada como o melhor meio de alcançar sua própria segurança, é numa lamentável insegurança que as vítimas dessa mesma globalização, pretendidas ou colaterais, suspeitam que o principal obstáculo está em se tornar livres” (pg. 54)

 

  1. Como o autor caracteriza os mártires e martírio?

“São pessoas que enfrentam desvantagens esmagadoras”. Não apenas na certeza de sua morte, mas também que seu sacrifício não será valorizado pelos espectadores. O martírio “significa solidariedade com um grupo menor e mais fraco, discriminado, humilhado, odiado e perseguido pela maioria”. (pg. 58)

 

  1. Como a sociedade líquido-moderna lida com os mártires ou heróis?

Para essa sociedade os mártires e heróis não tem espaço. Isso porque milita contra o sacrifício das satisfações imediatas em função de objetivos distantes, bem como questiona o valor de sacrificar satisfações individuais em nome de uma “causa” ou do bem-estar de um grupo. Essa sociedade despreza os ideais de “longo prazo” e da “totalidade”. (pg. 63)

 

  1. De que forma o conceito de “gerenciar” (de Bauman) se relaciona com o conceito de comportamento (de Maturana)?

Para Maturana, comportamento são as “mudanças de postura ou posição de um ser vivo, que um observador descreve como movimentos ou ações em relação a um determinado ambiente”. P. 152. Para Bauman, “"gerenciar" (controlar o fluxo de eventos) veio a significar a manipulação de probabilidades: tornar a ocorrência de certas condutas (iniciais ou reativas) de "pessoas, animais etc." mais provável do que seria de outro modo, tornando menos provável ou, de preferência, totalmente improvável a ocorrência de outros movimentos. Em última instância, "gerenciar" significa limitar a liberdade do gerenciado.”. p. 72.

 

  1. Qual a relação entre cultura (Bauman) e autopoiese (Maturana)?

“Nas descrições antropológicas ortodoxas (uma sociedade = uma cultura), a "cultura" aparece como "uma criada" da "estrutura social", uma eficiente ferramenta da "administração de tensões" e da "manutenção de padrões". Preserva intacta a distribuição dada de probabilidades comportamentais necessária para manter inalterada a forma "do sistema" e enfrenta quaisquer brechas da norma, fraturas e desvios ocasionais que ameacem afetar o "equilíbrio" do "sistema".”. P. 77. Entende-se que a manutenção do equilíbrio do sistema seria a autopoiese em Maturana.

 

  1. Qual a relação entre insegurança e tédio para Bauman?

“A alternativa à insegurança não é a bênção da tranqüilidade, mas a maldição do tédio. É possível superar o medo e ao mesmo tempo fugir do tédio? Pode-se suspeitar que esse quebra-cabeça é o maior dilema a confrontar os planejadores e arquitetos urbanos - um dilema para o qual ainda não se encontrou solução convincente, satisfatória e incontestada, uma questão para a qual talvez não se possa achar uma resposta plenamente adequada, mas que (talvez pela mesma razão) continuará estimulando arquitetos e planejadores a produzir experimentos cada vez mais radicais e invenções cada vez mais ousadas.”. P. 101.

 

  1. O que o autor pensa sobre os “estranhos” no ambiente urbano?

“Uma reunião de estranhos é um lócus de imprevisibilidade endêmica e incurável. Pode-se dizer isso de outra forma: os estranhos incorporam o risco. Não há risco sem pelo menos algum resquício de medo de um dano ou perda, mas sem risco também não há chance de ganho ou triunfo. Por essa razão, os ambientes carregados de risco não podem deixar de ser vistos como locais de intensa ambigüidade, o que, por sua vez, não deixa de evocar atitudes e reações ambivalentes. Os ambientes repletos de risco simultaneamente atraem e repelem, e o ponto em que uma reação se transforma no seu oposto é eminentemente variável e mutante, virtualmente impossível de apontar com segurança, que dirá de fixar. ”. P. 102.

 

  1. Qual a importância do convívio com a diferença, para Bauman?

“É a tendência a se retirar dos espaços públicos e recolher-se a ilhas de mesmice que com o tempo se transforma no maior obstáculo ao convívio com a diferença - fazendo com que as habilidades do diálogo e da negociação venham a definhar e desaparecer. É a exposição à diferença que com o tempo se torna o principal fator da coabitação feliz, fazendo com que as raízes urbanas do medo venham a definhar e desaparecer.”. P. 103.

 

  1. O que é uma sociedade de consumidores?

“Uma "sociedade de consumidores" não é apenas a soma total dos consumidores, mas uma totalidade, como diria Durkheim, "maior do que a soma das partes". É uma sociedade que (para usar uma antiga noção que já foi popular sob a influência de Althusser) "interpela" seus membros basicamente, ou talvez até exclusivamente, como consumidores; e uma sociedade que julga e avalia seus membros principalmente por suas capacidades e sua conduta relacionadas ao consumo.”. P. 109.

 

  1. Como o autor caracteriza a questão da educação vista na era sólido-moderna e nos tempos líquido-modernos?

Afirma que os filósofos da educação da era sólido-moderna viam os professores como lançadores de mísseis balísticos, portanto, os que recebiam o ensinamento seguiriam o alvo determinado, com permanência do aprendizado e com um curso predeterminado. Com a entrada nos tempos líquidos-moderno a antiga sabedoria perdeu seu valor pragmático e com a promoção da aprendizagem conhecida pelo nome de “educação” tiveram de mudar sua atenção dos mísseis balísticos para os mísseis inteligentes, assim os receptores seriam capazes de mudar de ideia, de curso, após seu lançamento, sendo que o que os direciona sãos as suas capacidades técnicas para atingir o objetivo.

 

  1. Na visão de Bauman como verdadeiramente deve ser entendida capacitação em contraponto da visão econômica e mercadológica que utiliza o conhecimento e as competências como um poderoso motor do crescimento econômico.

Indica que a verdadeira capacitação exige a aquisição não apenas das habilidades necessárias para o desempenho bem-sucedido num jogo planejado por outros, mas também dos poderes para influenciar os objetivos, riscos e normas do jogo, portanto, não somente habilidades pessoais, como também os poderes sociais. É necessário desenvolver habilidade para oferecer à esfera pública alguma chance de “ressureição”  com a interação com os outros, ter um diálogo, negociar, obter a compreensão mútua e de administrar ou resolver os inevitáveis conflitos em qualquer instância da vida compartilhada.

 

  1. Que significa a expressão: o consumidor é inimigo do cidadão?

Aqui o autor expressa sua visão de que o afastamento da política e ainda ausência de interesse pelo processo político, também está se afastando do conceito de democracia e cidadania. Ao citar Giroux & Giroux diz que a cidadania foi reduzida ao ato de comprar e vender mercadorias, em vez de evoluir para uma democracia substancial. E ainda, que a liberdade dos cidadãos foi plantada e enraizada no solo sociopolítico, devendo ser fertilizado diariamente pelas ações bem informadas de um público instruído e  comprometido, afastando-se, portanto, não bastando apenas a visão consumerista de participação da população.

 

  1. Como traçar um paralelo entre os personagens das duas histórias analisadas no último capítulo que buscam mudanças e a permanência em movimento, com o momento eleitoral que o Brasil está vivendo nas campanhas para as eleições municipais?

Bauman afirma que estas personagens não ficam estáticos, pois não estão satisfeitos como as coisas são, o movimento é uma constância. Desejam sempre que tudo seja diferente, e acreditam duplamente que é possível tornar as coisas diferentes e que eles serão os “heróis” para torná-las diferentes.  Verificamos que nas propagandas eleitorais a nítida mensagem de mudança, reformas e melhoria atribuída a uma pessoa (ao candidato) como um “salvador” para todos os problemas do munícipio, como se a política fosse um fazer individual e não social, coletivo.

 

  1. Por que para Bauman a globalização para a maioria dos habitantes do planeta equivale a profunda deterioração de suas condiçôes de vida?

Compreende que o resultado imediato da emancipação da atividade econômica em relaçao a qualquer critério, exceto o de multiplicar lucros, foi um crescimento sem precedentes da produção e da acumulação de riquezas, e também uma polarização aguda e violenta dos padrões de vida, gerando uma desintegração das redes habituais de proteção formadas por vínculos, obrigações e compromissos humanos. E a globalização unilateral limitada aos empreendimentos comerciais é percebida acima de tudo como uma perda de controle sobre o presente e uma incapacidade de prever o que o futuro trará, reforçando a insegurança.

 

  1. Qual a noção da esfera planetária abordada no livro?

O autor pontua que os problemas e  a miséria têm raizes planetárias e exigem soluções planetárias. Desta forma, entende que a responsabilidade planetária reconhece o fato de que todos nós compartilhamos o planeta e dependemos uns dos outros para o nosso presente e futuro.  E que soluções verdadeiramente eficazes e permanentes para problemas planetários somente podem ser encontradas e funcionarem por meio da renegociação e forma das redes de interdependência e interações globais e locais.