Seminário "O Fantasma da Máquina" - Arthur Koestler - Gênese - parte II


Porpaularegina- Postado em 17 abril 2012

Localização

Brasil
41° 53' 5.406" S, 151° 7' 30.0036" E

EVOLUÇÃO II: PROGRESSO PELA INICIATIVA
Quando não se sabe aonde uma estrada leva, é
certo como o inferno que ela nos conduzirá lá.  
Leo Rosten
EVOLUÇÃO III: ANULAÇÃO E REEXECUÇÃO
Quem já viu o vento? Nem você nem eu.
Mas quando as árvores inclinam suas
cabeças, É o vento que passa.
Christina Rossetti
A GLÓRIA DO HOMEM
Estamos todos na sarjeta, mas alguns de
nós olham para as estrelas.
Oscar Wilde
O FANTASMA DA MÁQUINA
As grandes perguntas são aquelas que uma
criança inteligente faz e, não obtendo resposta,
deixa de perguntar.  
George Wald
Carla
Carlos
João Alfredo
Paula EVOLUÇÃO II: PROGRESSO PELA INICIATIVA
 
• Expressões  como  “estratégia  adaptativa”  ou  “oportunidades
exploráveis”  implicam  um  esforço  ativo  em  direção  a  uma
realização ótima do potencial evolutivo.
• O  homem  é  o  resultado  de  um  processo  não-intencional  e
materialístico que não o tinha em mente. Ele não foi planejado. Um processo ou
mecanismo
essencialmente passivo, é
controlado pelo
ambiente.  
O organismo age sobre o ambiente antes de reagir a e, a criatura não
apenas se adapta ao ambiente, mas constantemente adapta este a si
própria  PROGRESSO PELA INICIATIVA  
“Efeito de Baldwin”
Baldwin  e  Lloyd  Morgan
descobriram. Foi redescoberto, de
modo  independente, por Hardy e
Waddington  em  1956. Habilidade
de  abrir  a  tampa  da  garrafa  de
leite,  espalhada  aparentemente
por  imitação,  através  de  toda  a
população de chapins da Europa.
 Se  aquele  particular  incidente  fortuito  não  se  houvesse
realizado,  uma  centena  de  outros  incidentes  poderiam  ter
exercido  o  mesmo  efeito  de  disparador  sobre  a  mente
preparada.
O transbordamento da
água do banho de
Arquimedes
A maçã de Newton O comportamento tenderá a estar
sempre  um  salto  à  frente  da
estrutura e a desempenhar assim
um  papel  decisivo  no  processo
evolutivo.  EVOLUÇÃO III:
 ANULAÇÃO E REEXECUÇÃO
A  principal  causa  da
estagnação  e  da  extinção
é a superespecialização.  Fuga da Especialização
O  fenômeno  da  pedomorfose  indica  que  em  certas
circunstâncias  a  evolução  pode  voltar  atrás  sobre  seus  passos,
por  assim dizer,  ao  longo do  caminho que  a  conduziu  ao beco,
sem  saída,  e  dar  nova  partida  em  uma  direção  nova  e  mais
promissora. O ponto decisivo aqui é o aparecimento de alguma
útil  novidade  evolutiva  na  fase  embrionária  ou  larval  do
ancestral,  uma  novidade  que  pode  desaparecer  antes  que
aquele atinja o estado adulto, mas que reaparece e é preservada
na fase adulta do descendente.  Beco sem Saída
Pedomorfose
Gerontomorfose
Modificação de estruturas
inteiramente adultas que já se
especializaram altamente. não pode
conduzir a mudanças radicais e novas
partidas; só pode levar uma linha
evolutiva já especializada um passo a
mais na mesma direção.  
Modelação dos jovens. Recuar para saltar
A  Figura  pertence  à  obra  original  de  Garstang  e
pretende  representar  o  progresso  da  evolução  pela
pedomorfose. Z a Z9  é a progressão de zigotos (ovos
fertilizados)  ao  longo  da  escada  evolutiva;  A  a  A9  
representam as formas adultas que resultam de cada
zigoto.  A  linha  cheia  que  vai  de  Z4   a  A4,  por
exemplo, representa a ontogenia, a tranformação do
ovo  em  adulto;  a  linha  pontilhada  de  A  a  A9
representa  a  filogenia  —  a  evolução  de  formas
superiores. Note-se,  porém,  que  as  linhas  delgadas
do  progresso  evolutivo  não  conduzem  diretamente
de,  digamos,  A4  a  A5;  isso  seria  uma
gerontomorfose,  a  transformação  evolutiva de  uma
forma  adulta.  A  linha  de  progresso  se  ramifica  a
partir da  fase  inacabada e embrionária de A4.  Isso
representa  uma  espécie  de  retirada  evolutiva  do
produto  acabado  e  uma  nova  partida  em  direção  à
novidade  evolutiva  Z5-  A5. Aí  poderia  ser  a  lesma-
do-mar adulta; então o ponto de ramificação sobre
a linha A4 -Z4  seria sua larva.  Nem a evolução biológica nem
o  progresso  mental  seguem
uma linha contínua de A6 a A7.
Surgimento  de  novidades
biológicas  e    criação  de
novidades mentais.
Apresentam certas analogias
Evolução mental.
A  herança  social  através  da
tradição  e  dos  registros
escritos  não  substitui  a
herança genética
Nenhuma  delas  é
estritamente  cumulativa
no  sentido de  continuar a
construir no  local  em  que
a geração anterior parou.  
     A glória do homem
As  atividades  do  animal  e  do  homem  variam  de
automatismos  semelhantes  aos  das  máquinas  até
engenhosas improvisações, de acordo com o desafio que
enfrentam. Os outros  fatores sendo  iguais, um ambiente
monótono  conduz  à mecanização  dos  hábitos,  a  rotinas
estereotipadas que,  repetidas  sob  as mesmas  condições
invariáveis, seguem o mesmo curso rígido e invariável.
Por outro  lado, um ambiente  variável e em mudança apresenta desafios que  só podem
ser  enfrentados por um  comportamento  flexível,  estratégias  variáveis  e uma  vivacidade
para  explorar  as  oportunidades  favoráveis.  O  paralelo  biológico  é  fornecido  pelas
estratégias evolutivas. Formas de auto-reparação
Formas de auto-
reparação
 
Formas superiores
de auto-reparação
 
Físicas
Poderes  exclusivos  de
remodelar  seus  padrões
de conduta, com o fim de
enfrentar  desafios
decisivos  através  de
respostas criativas.
 Entretanto,  para  anular  um  hábito  mental  santificado  pelo
dogma  ou  pela  tradição,  tem-se  de  sobrepujar  obstáculos
intelectuais  e  emocionais  imensamente  poderosos.  Não  quero
dizer apenas as forças inerciais da sociedade; o principal foco de
resistência  contra  a  novidade  herética  encontra-se  dentro  do
crânio do indivíduo que a concebeu.  Desaprender é mais difícil que aprender, e parece que a  tarefa
de romper estruturas cognitivas rígidas e remontá-las numa nova
síntese não pode, em  regra,  ser efetuada à plena  luz da mente
consciente  e  racional.  Isso  só  pode  ser  realizado  fazendo-as
reverter  àquelas  formas  de  pensamento  mais  fluidas,  menos
comprometidas  e  menos  especializadas  que  normalmente
operam nas zonas crepusculares da consciência. Associação  :  processo
pelo  qual  uma  ideia
conduz a outra.
Bissociação:  significa  combinar
dois  conjuntos  diferentes  de
regras,  viver  em  diversos  planos
ao mesmo tempo. Então  a  crise  se  instala,  com  sua  busca
desesperada  de  um  remédio,  a
improvisação não-ortodoxa que conduzirá
à nova  síntese, ao ato de auto-reparação
mental.
Uma  solução  “elegante”  de  um
problema dá origem, no conhecedor, à
experiência  da  beleza.  A  iluminação
intelectual  e  a  catarse  emocional  são
aspectos  complementares  de  um
progresso indivisível. O Fantasma da Máquina
Todos os organismos vivos  são  “sistemas abertos”, o que é o mesmo
que dizer que eles mantêm suas complexas  formas e  funções através
de  trocas  contínuas  de  energia  e  matéria  com  o  seu  ambiente.  o
organismo  vivo  está  continuamente  “elaborando”  substâncias  mais
complexas  a  partir  das  substâncias  de  que  se  alimenta,  formas mais
complexas  de  energia  a  partir  da  energia  que  absorve  e  padrões  de
informação mais  complexos —  percepções,  sensações,  pensamentos
— a partir da entrada de seus órgãos receptores.
 Entropia Negativa
• Aquilo  de  que  um  organismo  se  alimenta  é  entropia
negativa.  
• Entropia  (“energia  transformada”) é o nome para a energia
degradada que foi dissipada pelo atrito ou outros processos
desperdiçadores  no  movimento  a  esmo  das  moléculas,
energia que não pode mais ser recuperada.  
• Noutras palavras, entropia é uma medida de desperdício de
energia, de ordem degradada em desordem.  
• Dessa maneira, a entropia  tornou-se um  conceito-chave da
ciência  mecanicisticamente  orientada  —  outro  nome  de
Thanatos, o Deus da Morte. “Entropia negativa”, então, é um
modo tipicamente malicioso de referir-se ao poder que tem
a  vida  de  “elaborar”  sistemas  complexos  a  partir  de
elementos mais simples, ordem a partir da desordem.  Há  uma  série  ascendente  de  níveis,  indo  das  reações  automáticas  e
semi-automáticas, passando pela consciência e a autoconsciência, até
a  consciência  do  ego  de  sua  consciência  de  si  próprio,  e  assim  por
diante,  sem  atingir  um  teto  representação  diferentes  daquelas  do
palco  inteiramente  iluminado.  Temos  de  distinguir,  contudo,  entre
esses  estados  gerais  da  consciência  —  graus  de  vigília,  fadiga,
intoxicação — e o grau de consciência de uma atividade específica.
Pode, de acordo com as circunstâncias, ser efetuada automaticamente
sem ciência consciente de nossas próprias ações ou ser acompanhada
por graus variáveis de consciência. A aquisição de uma habilidade por aprendizagem exige um alto grau de
concentração
O  processo  da  condensação  da
aprendizagem  em  hábito  prossegue
todo  o  tempo  e  equivale  a  uma
contínua  transformação  de  atividade
“mental”  em  “mecânica”  —  de
“processos  mentais”  em  “processos
maquinais” .
 O hábito é o  inimigo da  liberdade; a mecanização dos
hábitos  tende  para  o  rigor  mortis  do  formalista
semelhante a um robô (capitulo VIII). As máquinas não
podem  tornar-se  semelhantes  aos  homens, mas  estes
podem tornar-se semelhantes às máquinas. O  segundo  inimigo  da  liberdade  é  a  paixão,  ou,  mais
especificamente, as emoções auto-afirmativas, do tipo da fome,
da raiva, do medo, da violação. Quando elas são despertadas, o
controle das decisões  é  assumido por  aqueles  níveis primitivos
da hierarquia que os vitorianos chamavam de “a Besta dentro de
nós” e que  se acham na  realidade correlacionados a estruturas
filogeneticamente mais antigas do sistema nervoso.
A conquista do
ego é um meio
em direção à sua
transcendência.
 “Mental” e “mecânico” são atributos  relativos, com a dominância de um ou
do  outro  derivando-se  de  uma mudança  de  níveis.  A  consciência  tem  sido
comparada a um espelho no qual o corpo contempla suas próprias atividades.
Seria talvez uma aproximação mais chegada compará-la à espécie de Sala dos
Espelhos onde um espelho reflete nosso reflexo em outro espelho e assim por
diante.  “Vejo em todas as partes do mundo a inevitável expressão do
conceito de  infinidade  (...) A  ideia de Deus nada mais  é que
uma   das  formas da  ideia de  infinidade. Enquanto o mistério
do  infinito  pesar  sobre  a  mente  humana,  templos  serão
erguidos ao seu culto, seja ele chamado de Brama, Alá, Jeová
ou Jesus (...) Os gregos compreenderam o misterioso poder do
lado  oculto  das  coisas.  Eles  nos  legaram  uma  das  palavras
mais belas de nossa  língua, a palavra “entusiasmo”, en theos,
um  deus  dentro  de  si.  A  grandeza  das  ações  humanas  é
medida  pela  inspiração  da  qual  elas  brotam.  Feliz  é  aquele
que conduz um deus dentro de si, e a ele obedece. Os  ideais
da arte e da ciência são iluminados por reflexos do infinito”.

AnexoTamanho
koestler_parte_4_genese.pdf1.56 MB