Vlogueiros e a “Economia da atenção”: novas concepções de esfera pública e de cultura cidadã.


PorAnônimo- Postado em 02 junho 2009

Dois pesquisadores apresentaram recentemente os resultados de uma ampla investigação sobre o comportamento e a cultura da comunidade do You Tube.

Trata-se do trabalho intitulado Agency and Controversy in the YouTube Community escrito por Joshua Green (pesquisador do Comparative Media Studies e do projeto Convergence Culture Consortium do Massachusetts Institute of Technology) e Jean Burgess, vinculado ao ARC Centre of Excellence for Creative Industries & Innovation da Queensland University of Technology.

O trabalho explica, a partir da análise de 4.320 vídeos, o caráter indeterminado e caótico do YouTube e a sua ascensão à condição de mais proeminente plataforma de mídias participativas. Ter-se tornado uma plataforma disponível e adequada para uma larga escala de participantes e relativamente sem restrições de uso fez do YouTube uma verdadeira instituição: é uma mídia co-criada por várias instituições e indivíduos que a utilizam. Essa abertura e indeterminação do YouTube criou uma oportunidade inédita para os usuários da Internet compartilharem experiências culturais numa escala global.

Burgess e Green pesquisaram a cultura comum do YouTube, as normas e as práticas que emergiram nessa nova plataforma. Aproximadamente metade do que Burgess e Green examinaram pode ser classificado como “usuário-genérico”, e 42% foi classificado como conteúdo tradicional de mídia.

Os pesquisadores descobriram, entretanto, que os usuários individuais são, na sua ampla maioria, contribuintes (i, é, uploaders) e que as instituições tradicionais de mídia são uma pequena minoria desses contribuintes. Isso sugere que os usuários individuais são os que mais contribuem para a geração de conteúdo do You Tube. A pesquisa também mostra que enquanto o conteúdo tradicional de vídeo tem sido “preferido”, os conteúdos criados por usuários são os mais discutidos, pois são os que mais recebem comentários em texto e em vídeos de resposta.

O conteúdo que mais gera discussões e interações no You Tube são os vídeo blogs, ou “vlogs”. Os vlogs são o núcleo do You Tube. São os nodos dessa rede de comunicação. Os vlogers participam e facilitam as discussões, provocam respostas e incluem os outsiders na comunidade que se desenvolve no entorno deles. O Vlog é um gênero de comunicação que estimula a crítica, o debate e a discussão.

Uma interessante conclusão do estudo é que esses vídeos se caracterizam por uma prudente inteligência da “economia da atenção”, e que essa inteligência é frequentemente executada jocosamente e com bom humor.

Diz o estudo que está ficando cada vez mais claro que a incrível popularidade da “economia da atenção” do You Tube – que inclui elevado número de observadores, respondentes e comentadores – é cada vez mais o alvo das estratégias de game dos publicitários.

A pesquisa desafia também a qualificação jurídica atribuída aos usuários regulares de conteúdos on line, que tende a considerá-los consumidores finais de uma cadeia de consumo: não, eles estão no principio da cadeia de consumo, são criadores.

A visão do You Tube como uma mera plataforma de distribuição de vídeos é rigorosamente errada. Muitas das formas de utilização atual do You Tube desafiam diretamente as ideias sobre produção cultural e consumo mais correntes no meio jurídico. A natureza participante e interativa da cultura que prospera no You Tube reflete, de acordo com os autores, mudanças nas ideias comuns sobre a cultura cidadã, sobre educação e cultura e sobre a esfera pública.

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Carlos L. Strapazzon
email: strapazzon.carlos.luiz@gmail.com