Web 2.0, Web 3.0 e as oportunidades para o governo


Porricardocampos- Postado em 10 dezembro 2012

Hoje há a necessidade de um novo ambiente de governo que procure responder às mudanças  de paradigmas tecnológicos e comportamentos sociais de uma maneira adaptativa, positiva, inovadora. As Webs 2.0 e 3.0 têm muito a colaborar no atual desafio.

Valor público é o valor compartilhado por toda a sociedade: grupos de cidadãos, empresas e organizações, incluindo a parcela informal dos elementos sociais. Otimizar o valor público exige que os governos maximizem os benefícios que podem ser obtidos a partir de partilha de recursos entre todos os intervenientes na sociedade.

O relatório feito pela Comissão Europeia em 2008 Value for Citizens – a vision of public governance em 2020, faz uma projeção da tendência crescente dos serviços públicos serem orientados para a criação de valor público e capacitação do usuário (empowerment).

O relatório faz ainda uma perspectiva de longo prazo do valor público, mostrando como este evoluiu, nos últimos quatro séculos, do conceito centralizado nos valores liberais (séc. 18), para os valores democráticos (séc. 19), destes para os valores sociais (séc. 20) e por fim evoluindo para os valores em “empowerment” – ou como já abordamos, para os valores de capacitação da pessoa, a partir deste século.

“Empowerment”, por sua vez, está diretamente ligado a fenômenos sociais como os trazidos pela evolução da internet, que permitiu às pessoas compartilhar e colaborar com informações e conhecimentos por meio das inúmeras mídias sociais de uma forma inédita, e que trazem um grande números de diferentes consequências sociais, podendo mesmo ser consideradas de alto impacto.

Há necessidade de um novo ambiente de governo que não apenas suporte os fenômenos sociais de hoje, mas que se beneficie deles ao compreender todas as suas possibilidades estratégicas.

Por isto, hoje há necessidade de um novo ambiente de governo. Um que não apenas suporte estes fenômenos sociais, mas que se beneficie deles ao compreender todas as suas possibilidades estratégicas.

Um governo hierarquizado, hoje, não consegue mais acompanhar a sociedade em rede. O novo ambiente de governo demanda que haja possibilidade da governança acontecer na própria rede, onde o governo poderá ter um papel de coordenador destas redes de conexões.

O novo ambiente de governo pede a capacitação dos cidadãos para a inclusão e fluência digital, pede serviços personalizados e auto-serviços; pede governos mais abertos, participativos e democráticos, e maior influência da “sabedoria da população”, e todas estas demandas, ao serem atendidas, trazendo maior legitimidade e confiança no setor público por parte da sociedade.

Iniciativas pelo mundo

Com isto, diversas iniciativas têm despontado mundo afora,  onde governos procuram responder a tais mudanças  de paradigmas tecnológicos e comportamentos sociais de uma maneira adaptativa, positiva, inovadora.

Um exemplo disto é o que governos como dos EUA (Data.gov), Reino Unido (Data.gov.uk) e Austrália (Data.australia.gov.au) têm proporcionado aos cidadãos por meio de serviços online atraentes, que disponibilizam bases de interesse público de grande variedade, em formato aberto e acessíveis a toda  a sociedade, com o objetivo de tornar transparente o acesso aos dados do governo, ampliar a participação social na melhoria das informações e demandas da cidadania e fomentar a colaboração na produção de novos serviços públicos.

Os serviços incluem dados que variam desde o coeficiente de uso de pesticidas em áreas rurais, estatísticas de consumo de energias alternativas por meios de transporte, até mapas com número, localização e instalações de sanitários públicos e privados de todo o território nacional.

O Brasil, por sua vez, anda estagnado no ranking da economia digital. Segundo estudo recentemente elaborado pela divisão de pesquisas da IBM em parceria com a revista The Economist, o país se mantém em 42ª no ranking de economia digital, dentre os 70 países analisados, o que é uma posição desconfortável levando-se em consideração seu tamanho e porte, e caiu inclusive em aspectos importantes como “visão e política de governo” e “ambiente social e cultural”.

Governo 2.0 e Governo 3.0

- A Web 2.0 -

O gráfico a seguir mostra a evolução da web desde o seu início nos anos 90, até agora, em que a Web 2.0 está se consolidando atualmente.

Evolução para Web 2.0

O que define essencialmente a web como 2.0 são características como:

  • A web ser uma plataforma de serviços, com eficiência de custos em escalabilidade: as aplicações deixam de ser produtos, com suas licenças e vendas, restritos ao uso pelo PC, e passam a ser serviços entregues via internet, rodam uniformemente em quaisquer ambientes, em versão “Beta perpétuo”, ou seja, a sua atualização é contínua, em oposição ao ciclo de lançamento e atualização de um software tradicional.
  • Dados como a nova competência central: o gerenciamento dos banco de dados é a nova competência central, funcionando como processador, onde robôs das operações são responsáveis por toda a consistência e eficácia da proposta do site em relação ao público; assim, as operações se tornam competência central, e não simplesmente o software, pois este deixará de funcionar se não receber manutenção diária, obedece ao conceito de “infoware”. O monitoramento do usuário é feito em tempo real. Os bancos de dados tornam-se cada vez mais eficientes, conforme cada usuário, ou cada ponto de uma malha de conexões, vai agregando informações a eles. Provê as informações obtidas nos betas perpétuos para recriar o modelo de negócios, explorando o que há de relevante e as novas demandas diariamente.
  • Colaboração/ inteligência coletiva agregada: é uma via dupla, onde o usuário recebe, produz e publica informações na Web, sendo seu co-desenvolvedor. Isto é claramente demonstrado pelo crescimento espantoso de sites participativos como os blogs, leilões (e-Bay), e-commerces (Amazon), sites de relacionamento (Facebook, MySpace), sites colaborativos (Flickr, You Tube, Wikipedia). São os usuários agora que decidem diretamente o que é relevante.
  • Interface rica: o usuário tem uma experiência interativa mais rica na navegação, com ferramentas e tecnologias envolvidas no seu desenvolvimento, como o AJAX (Javascript e XML).
  • Modelagem mais flexível da programação: os modelos de programação são leves, e permitem a interoperabilidade entre sistemas e acoplamento de componentes. A programação é “reciclável”, que abre margem à colaboração e contribuição.
  • Software para mais de um dispositivo: conceito de aplicação sintética, que é composta de serviços providos por múltiplos computadores.

Prosseguindo nos nossos exemplos de uso da Web 2.0 no setor público, o governo britânico instituiu o canal de serviços Working together para estimular a utilização de ferramentas sociais de internet, com o objetivo de agilizar e aprimorar a entrega de serviços à população, à maneira dos wikis.

O euparticipo.org, de Portugal, é um projeto elaborado para dar voz ao cidadão, perceber quais são as suas preocupações e demonstrar que é possível ter uma sociedade ativa e participativa.

Outras duas iniciativas destes mesmo países, fixmystreet e a minha rua, permitem que os cidadãos reportem problemas em suas ruas, como buracos, pichação ou falta de iluminação, por intermédio de um mashup que agrupa a funcionalidade de um mapa com comentários.

Há ainda os projetos independentes apoiados pelo governo, como o  britânico patient opinion (o Reino Unido, sempre muito bem pontuado em rankings mundiais de serviços públicos online), na qual o próprio usuário avalia a qualidade dos serviços médicos ofererecidos, segundo critérios como: padrão dos cuidados médicos, serviços de enfermagam, limpeza, estacionamento etc. Recebe 20 mil visitas  e 7 mil comentários por dia, metade das avaliações são positivas.

Já a Citix é uma rede social que foi montada pelo governo brasileiro, hoje operada pela mídia digital privada, na qual os cidadãos podem apontar no mapa problemas de segurança, infraestrutura etc., bem como opções de lazer, próprios públicos, entre outros.

Por que o governo não explora mais recursos como os de sites de compartilhamento de videos, como o YouTube, ou não adota modelos de portais de compras governamentais interativos, à maneira do Amazon.com?  Porque não adota um conceito de serviço de “governo visual” utilizando recursos de georreferenciamento como os disponibilizados pelos Google Earth, e tantos outros recursos que surgiram com a Web 2.0, e que podem promover maior aproximação e compreensão mútua junto ao cidadão?

 

- A Web 3.0 –

A Web 2.0, mal introduzida em nosso dia-a-dia, já está sendo absorvida pela Web 3.0 e até pela Web 4.0, que será tema de um próximo artigo. Em uma frase, se fosse possível caracterizar a diferença entre as diversas Webs, poderíamos dizer que o percurso da Web 1.0, para a Web 2.0, para a Web 3.0 e para a Web 4.0 baseia-se no avanço das estruturas de relacionamento:

De redes de conteúdos (Web 1.0), para redes de relacionamento (Web 2.0), para redes de contextos (Web 3.0), para redes de conexão de inteligências (Web 4.0).

A Web 3.0

Na Web 3.0, todo o conhecimento já disponível na internet passa a ser mais organizado e usado de maneira mais inteligente. Há uma transição da World Wide Web (rede mundial) para World Wide Database (base de dados mundial), de um “mar” de documentos para um “mar” de dados e programas que entendam como fazer melhor uso desses dados. Aumenta a capacidade semântica: ao se pesquisar algo, obtem-se respostas mais precisas.

O gráfico a seguir dá uma visão da interrelação entre as competências e evolução dos estágios da web:

Fonte: Nova Spivack www.mindingtheplanet.net

William D. Eggers, no seu livro  Government 2.0, diz que os governos atuais são relíquias de uma era, construídos para uma economia e sociedade que em grande parte já desapareceu. Hoje há um “outro  mundo” para os relacionamentos. Como esse mundo pode ser utilizado pelos governos?

Esta alta capacidade de interação e relacionamento virtual será estimulada pela nova geração de hoje, jovens e crianças que convivem naturalmente com o conceito de redes complexas de relacionamento virtual. As novas gerações vão escolher os governantes que estejam  preparados para esse novo mundo físico/virtual. Os modelos de governo e o perfil dos governantes atuais já estão no passado, um indício disto é como cidades pequenas hoje se destacam no cenário nacional!

Em resumo, os governos 2.0 e 3.0 trazem oportunidades para a administração pública nunca disponíveis até então, e alguns exemplos de como seus recursos podem ser utilizados são:

  • Ter a web como plataforma de governo, sem necessidade de infraestrutura de TI.
  • Usar as comunidades virtuais como base de relacionamento do governo.
  • Aproveitar a inteligência coletiva dos agentes sociais
  • Customizar e personalizar a interface de governo para o cidadão, conceito de “Meu Governo”
  • Oferecer SaaS (Software as a Service) para o cidadão/usuário
  • Possibilitar uma rápida ampliação dos serviços, por meio de integração com agentes privados
  • Disponibilizar centrais integradas de atendimento à população
  • Adotar o software multicanal, que pode rodar nos mais variados dispositivos
  • Tratar o cidadão como o centro das decisões
  • Promover a otimização de processos do governo
  • Adotar processos, agentes e produtos virtualizados, que promovem menores custos e maior rapidez operacional
  • Disponibilizar a mobilidade, tanto para quem produz como para quem consome os serviços públicos
  • Aproveitar a facilidade tecnológica, que permite mais opções de produtos e serviços, a maior parte sendo auto-serviços
  • Dispor de serviços proativos, alertas automáticos pessoais, regionais etc.
  • Integrar-se nos níveis de governo, onde variados serviços são oferecidos em um único atendimento
  • Poder demonstrar uma “única versão da verdade” para as informações de governo, devido a um maior incentivo à transparência
  • Levar a e-Democracia ao limite, sendo o Estado transparente.

As possibilidades são muitas!

 

Fonte: http://igov.com.br/tigov/?p=564