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Ontologia dos valores

Por Regina Ferretto D'Azevedo, Estudante de Direito.


1. O não ser dos valores


Todas as coisas são vistas sob a ótica dos valores, ou seja, não há como ser indiferente com relação aos objetos situados à nossa volta. Assim sendo, existem os juízos de existência – que enunciam aquilo o que a coisa é – e os juízos de valor, que por sua vez, enunciam algo que não se confunde nem com a existência, muito menos com a essência da coisa. Conclui-se, assim, que os juízos de valor não são, consistindo, dessa maneira e tão somente, em qualificações relativas aos objetos.



"Sabe-se que os valores não são coisas - categoria própria dos objetos reais e ideais"

2. Objetividade dos valores


Por serem considerados objetivos é possível discutir sobre os valores, isto é, assim como as verdades científicas, os valores são descobertos – assim como algo que não fora intuído antes e agora o é.


A partir do exposto, sabe-se que os valores não são coisas – categoria própria dos objetos reais e ideais –, muito menos impressões subjetivas, isso porque, na realidade, não são, mas valem. Ao dizer que algo vale, qualifica-se esse objeto e, por conseguinte, conclui-se que essa não-indiferença, mediante o objeto, é a essência do valer.


Hussserl, baseado no psicólogo Stumpf, classificou o valor como um objeto não independente, ou seja, que não possui em si mesmo a substantividade, pois adere a outro objeto.


Assim, considerando que o valor não é um ente, porém é algo que sempre adere a alguma coisa será chamado de qualidade – a primeira categoria do valor é, portanto, o valer e a segunda, a da qualidade.



3. A qualidade do valor


A qualidade do valor é irreal, já que o valor não pode ser considerado uma coisa. Além disso, não pode ser demonstrado como se faz com os objetos ideais. Outra diferença marcante – entre os valores e os objetos ideais e reais – é o fato dos valores serem estranhados à quantidade, ao tempo e ao espaço.


Ainda sobre os valores, é possível afirmar que são absolutos por serem alheios ao tempo, ao espaço e ao número. Significando, portanto, que apesar da relatividade histórica no homem e em seus atos de intuição de valores, esses últimos não mudam.


Em resumo, os valores são valentes – qualidades das coisas – são absolutos, irreais, alheios à quantidade, ao tempo, ao número e ao espaço.



4. A polaridade do valor


Como já mencionado, o valor consiste na não-indiferença e essa não-indiferença, que é a essência do valor, implica em uma polaridade – um pólo positivo e outro negativo, ou seja, todo valor tem seu contravalor.


É de fundamental relevância ressaltar aqui que os psicólogos confundiram valores com sentimentos, pois ambos possuem a característica da polaridade. Porém, a polaridade referente aos valores difere da referente aos sentimentos, isso porque a primeira é uma polaridade fundada enquanto que a segunda representa vivências internas da alma.



5. A hierarquia dos valores


Os valores, por serem múltiplos, obedecem a uma hierarquia que se fundamenta na sua não-indiferença em suas múltiplas relações.




"Scheler situou os valores religiosos no ápice de sua classificação"

6. Classificação dos valores


A classificação mais aceitável dos valores é a formulada por Scheler em seu livro "O formalismo na ética e a ética material dos valores". Assim os valores subdividem-se da seguinte forma hierárquica – a hierarquia é a quarta esfera dos valores: religiosos, éticos, estéticos, lógicos, vitais e úteis.


Scheler, é importante lembrar, situou os valores religiosos no ápice de sua classificação, pois acredita que, para aqueles que possuem a intuição religiosa, esses valores seriam os hierarquicamente mais relevantes.


Duas observações finais devem ser feitas com relação aos valores: a primeira diz respeito ao estudo pormenorizado dos valores, que é de grande importância quando aplicado a um grupo de ciências ou a uma ciência correspondentes, pois, dessa forma, serviriam de base a esses ramos mesmos do conhecimento – assim a filosofia da religião deve fundar-se num estudo cuidadoso dos valores religiosos, como o fez Gründler em seu ensaio Filosofia da religião sobre a base fenomenológica; a segunda trata da homogênea unidade do valor com a unidade total do SER, ou seja, os valores são qualidades valiosas que se fundem completamente com o restante da realidade.



Regina Ferretto D'Azevedo - Estudante de Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Texto elaborado em outubro de 2001.

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