A ausência da Deusa
Este texto está baseado nas seções "A nova rota da civilização" e "A ausência da Deusa" do capítulo 7 do livro “O Cálice e a Espada” de Riane Eisler.
No início os invasores saqueavam, matavam todos e destruíam as cidades, com o tempo eles começaram a adotar tecnologias, valores e modos de vida das populações conquistadas, inclusive tomando as mulheres locais como esposas. Com esse convívio, era preciso manter a posição de dominação e para isso não poderia ser absorvido o aspecto sexual igualitário e pacífico do antigo modelo de parceria na sociedade.
Seria um risco ter o modelo dominador sobreposto ao modelo de parceria, era preciso retirar o poder de decisão das mulheres e autoridade espiritual das sacerdotisas, substituindo o sistema matrilinear pelo patrilinear.
Com os progressos tecnológicos foi possível consolidar um sistema socioeconômico baseado em superioridade, através de: armamentos sofisticados e letais; má distribuição de bens, os governantes ficavam com a riqueza (alimentos, bens materiais); os cargos de poder ou status eram transferidos das mulheres para os homens.
Para substituir o Cálice pela Espada, a Deusa foi sendo retirada de seu elevado posto, com relatos de diversos tipos como: assassinato da Deusa; estupro, mostrando a superioridade masculina; a Deusa passava a esposa ou subordinada de um deus mais poderoso; deidade marcial, deusa da guerra; deidades femininas reatribuídas aos deuses, através de perspectiva androcêntrica.
Exceto poucas passagens ocasionais e pejorativas, como em Canaã e nos Hebreus, não se encontram outros vestígios de deidade feminina. O termos que aparecem são: deus do trovão, da montanha, da guerra, Jeová, Rei, Senhor, Pai, Pastor. Inclusive nas Escrituras Sagradas tem-se a ausência da Deusa que pode ser percebida em diversas situações:
- Sociedade de parceria e não dominação em Isaías, aparece com pouco destaque;
- Encontra-se uma rede de mitos e leis para impor, manter e perpetuar o sistema dominador de organização;
- Estudiosos apontam uma elite sacerdotal que reescreveu o mito e a história para solidificar a sua posição dominadora;
- No Antigo Testamento, a mulher aparece dominada pelo homem como vontade de Deus;
- As mulheres eram propriedade privada do homem: dos pais, maridos ou senhores, assim como seus filhos;
- Meninas e mulheres de cidades conquistadas eram escravizadas, como sendo por ordens de Jeová;
- Um homem podia vender a filha como serva, quando um servo era libertado, a esposa e filhos continuavam propriedade do senhor;
- Os filhos também estavam sob controle absoluto dos homens.
Este agora era o cenário vivido pelas mulheres na ausência da Deusa e sob domínio masculino.
Por Débora Cabral Nazário.
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