A falência da educação também na internet


PorAnônimo- Postado em 02 outubro 2009

O brasileiro é descuidado com a segurança da internet e por isso somos o povo que mais manda spam no mundo - e sem saber. Podemos fazer alguma coisa.
Ingenuidade imaginar que a internet seria impermeável aos efeitos dessa situação. Com mais de trinta milhões de lares brasileiros com acesso à rede, o que dados do Cert-BR — gente séria, que luta exclusivamente por uma internet brasileira mais segura — mostram é um estado de calamidade e descaso que vem trazendo, desde há muito, resultados péssimos para o indivíduo e para a coletividade.
Ocorre assim: munido de seu acesso banda larga o usuário típico não perde nem trinta segundos para se lançar ao mar aberto da navegação pela web. E essa metáfora marítima é precisa na medida em que representa o que ocorreria se estivéssemos falando de banhistas na costa brasileira, e não de internautas em seus lares.
O caso típico evoluiu dos PCs contrabandeados do Paraguai de vinte anos atrás, para a avalanche resultante da “MP do Bem”, que reduziu os custos de acesso a computadores de forma legal. Excelente, pois pelo menos hoje o hardware e o sistema operacional das máquinas são obtidos de forma legal, e os equipamentos estão ao alcance de cada vez mais pessoas.
O acesso à internet, por sua vez, também se populariza, e apesar da péssima qualidade dos serviços prestados pelas incumbents, pelo menos um protótipo de inclusão digital já se materializa no país.
Só que infelizmente as boas notícias terminam por aí. Apesar da legalidade do hardware e do software básico, o usuário típico não gasta mais um tostão com seu equipamento, baixando editores de texto, planilhas eletrônicas e outros pacotes de forma ilegal via peer-to-peer ou simplesmente recorrendo ao camelô mais próximo em busca de cópias piratas.
Quanto às ferramentas de segurança, o usuário ou pirateia também o antivírus, ou baixa a versão mais rasteira e gratuita que encontrar.
Atualização da base de vírus e varredura diária? Só em raros casos, pois muitos usuários ou desconhecem a necessidade ou acham que atrapalha o desempenho.
Firewall? Só se não atrapalhar algum de seus aplicativos piratas, e mesmo assim só se alguém mais instruído contar para que serve e configurar tudo sem dar trabalho. Atualizações periódicas do sistema operacional? Só até começarem a atrapalhar o download daquele filme que o usuário não vê a hora de assistir.
E isso se ficarmos sós no plano da tecnologia. A avidez por diversão, por conteúdo, por novas experiências e novos sites, leva a um frenesi de cliques, downloads e visitas que não obedecem a nenhum critério de análise mais elaborado. “Que mané critério, que nada” bem poderia ser o slogan para essa horda de usuários. Site com vírus? Quem se importa? Download infectado? Quem se importa? “Povo prascóvio”, como bem colocou Guimarães Rosa.
Sem a segurança de que tanto precisa, o usuário doméstico se põe de bom grado na posição de vítima de todo tipo de abuso. Vírus, worms, spyware, adware, backdoors, cavalos de troia e outros tipos de pragas eletrônicas pululam em computadores domésticos, e seus usuários no mais das vezes não estão cientes sequer de sua vulnerabilidade ou do risco que correm, quiçá do fato de já terem sido vitimados.
Uma rápida passada pelo site da CBL, a Composite Blocking List, entidade sem fins lucrativos que compila uma lista diária de endereços IP responsáveis pela proliferação e spam, mostra o Brasil como o campeão de endereços bloqueados, com mais um milhão e cem mil IPs.
Nesse quesito estamos à frente da Índia (segunda colocada) e da China (terceira), sendo que ambos os países têm mais de um bilhão de habitantes, e mais internautas que toda a população do Brasil.
http://webinsider.uol.com.br/index.php/2009/09/17/a-falencia-da-educacao-tambem-na-internet/
Comentário: Mas será mesmo que o brasileiro manda assim tanto spam? Bem, como o destino desse lixo eletrônico é majoritariamente a Ásia (Taiwan e China) e o Brasil aparece apenas como décimo colocado nesse ranking de destinatários, a resposta é não. Não mandamos tanto spam, assim, pelo menos não conscientemente. Infelizmente esta é a realidade dos Brasileiros e a tendência ao contrário do resto do mundo é piorar. A solução sugerida pelo Cert-BR para este problema em particular é elegante, mas tememos que seja insuficiente: trata-se de uma mudança nas portas de envio de e-mail, num mecanismo simples e que faz bastante sentido sob o ponto de vista tecnológico.Contudo, essa solução não faz nada para mudar o doloroso quadro de falta de informação e instrução que assola a vasta maioria de nossos usuários. E enquanto não endereçarmos a questão da educação, continuaremos sujeitos a essa situação, independente das soluções tecnológicas propostas pelo bem-intencionado pessoal do Cert-BR.
Acadêmica: Márcia Aparecida Moreira