PF não consegue decifrar criptografia dos arquivos de Daniel Dantas


PorAnônimo- Postado em 01 outubro 2009

Dois meses e meio depois de apreender cinco discos rígidos no apartamento do banqueiro Daniel Dantas, durante a Operação Satiagraha, a Polícia Federal ainda não conseguiu decifrar a criptografia que protege os dados, informa nesta segunda-feira reportagem de Rubens Valente e Mario Cesar Carvalho, publicada pela Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

Segundo a reportagem, até a última sexta-feira a polícia não havia conseguido desvendar as senhas.

Numa análise inicial, peritos da Polícia Federal disseram que precisariam de um ano para quebrar os códigos. Um dos peritos disse que nunca havia visto um sistema de proteção tão sofisticado no Brasil. O delegado Protógenes Queiroz, que coordenou a Satiagraha, diz que os HDs "guardam segredos da República".

Os cinco discos rígidos são unidades externas de memória, e estavam guardados dentro de um armário no apartamento do banqueiro em Ipanema, na zona sul do Rio.

O impasse levou os investigadores da PF a estudar uma alternativa jurídica para o rompimento do sigilo. Em conjunto com o juiz federal Fausto De Sanctis, informado há mais de um mês sobre os problemas nos HDs, os policiais discutem a possibilidade de obrigar, por ordem judicial, a empresa norte-americana que criou o software a fornecer as chaves eletrônicas que abrem os arquivos. É também aguardada a chegada de um grupo de peritos da PF de Brasília (extraído de http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u447378.shtml).

Comentário

Novamente, dentro do mundo do crime, o poder econômico dispõe de vantagens frente à perseguição criminal. Não é que o esquema criminológico que descreve o Estado e suas instituições como ferramentas perversas de opressão das classes dominantes esteja de todo certo – se assim fosse, todos os moradores de favelas cometeriam crimes, mas, ao contrário, sabe-se que a minoria dessa população comete crimes -. Porém, não se pode negar que, em casos como o noticiado, as vantagens de poder contratar um bom advogado, de fazer perder de vista os prazos por conta de cartas rogatórias a ponto de prescrever os crimes, agora também a tecnologia já é utilizada para “queimar a largada”.
Para aqueles que ignoram, as suspeitas indicam que, só com evasão de divisas, a Operação Satiagraha apurou o desvio de mais de R$ 6 bilhões, parte do dinheiro, também suspeita-se, foi usado na compra da Brasil Telecom pela Oi (informações extraídas da Folha de São Paulo).
Todos esses fatos são de uma gravidade nunca antes alcançada, que só reforça a ideia de que é cada vez mais necessário que os profissionais responsáveis pela investigação, instrução e condenação de crimes assim estejam cada vez mais bem preparados (tanto em recursos humanos, quanto em recursos tecnológicos) e resguardados contra ameaças, no mínimo para evitar o império do crime. As propostas de solução para o problema jurídico acima (se o interesse da instrução processual penal prevalece sobre a propriedade intelectual e privacidade dos dados dos contidos nos HDs) é uma evidência da necessidade desse preparo.
Para concluir, contrário ao esquema criminológico com que se iniciou o texto, há indícios de que agora é o crime quem busca maneiras de dominar, através de uma catarse econômica, contra a qual inicialmente se insurgia. Pergunta-se: quanto tempo levará para as academias se darem conta disso?