A cisão do cogito


PoreGov- Postado em 03 março 2011

Autores: 
FORLIN, Enéias

Martial Guéroult, na sua obra Descartes Selon L?Ordre des Raisons, a qual se constitui num verdadeiro marco na interpretação da metafísica cartesiana, apresenta o cogito como fornecendo duas verdades de estatutos diferentes: a verdade de minha existência, dotada de valor objetivo independentemente da garantia divina (Valor objetivo, nessa etapa, apenas temporário, isto é, na estrita dependência da intuição atual clara e distinta. A garantia divina permanecendo necessária, pois, para fixar o valor objetivo independentemente da intuição atual.); e a verdade de minha natureza, a qual não seria mais que uma certeza objetiva, cujo valor objetivo dependeria de uma garantia divina. Surpreendente, esta cisão da verdade do cogito, não parece ter provocado polêmica entre os principais intérpretes de Descartes.
O objetivo de nossa comunicação é mostrar que, apesar da aparente naturalidade, a interpretação guéroultiana estabelece uma cisão artificial e impossível no cogito cartesiano. O cogito, tal como é formulado no interior da filosofia de Descartes, não pode comportar esta diferenciação entre o conhecimento de minha existência e o conhecimento de minha natureza: no momento da intuição atual, ou ambos têm valor objetivo ou nenhum o têm.

AnexoTamanho
30270-31112-1-PB.pdf165.61 KB